A partir deste mês, começo a escrever neste espaço. Serei objetivo, ou ao menos buscarei, pois entendo que tratar sobre uma paixão e seus envolvidos, não se explica muito, se sente.
Minha paixão pelo tricolor vem desde muito cedo. Criado em Brotas, bairro vizinho da antiga Fonte Nova, filho de classe média e pais tricolores, ir ao estádio sempre foi a melhor forma de “turismo”, seja nas quartas ou domingos (na década de 80, não me recordo de jogos nas terças, quintas, sextas ou sábados, mas isso é assunto para uma próxima coluna). Mas antes dos dias dos jogos, existia uma expectativa para compra dos “bilhetes”. As filas eram gigantes e tínhamos que através de um buraco triangular entregar o dinheiro e rezar para não ser empurrado e perder o bilhete e o dinheiro. No final tudo dava certo, e toda confusão, aumentava ainda mais a expectativa pela partida.
Nos dias dos jogos, existia uma grande romaria. A Avenida Dom João VI era transformada em um acesso de sentido único até a ladeira do Pepino ou a Ladeira dos Galés. Outra multidão surgia andando pela Avenida Bonocô. Os carros eram estacionados em ambos os sentidos, engarrafando tudo. Na verdade tudo isso já fazia parte do “BAHIA DAY”. Não precisávamos de campanha de marketing, apenas sentíamos que naquele dia nossa paixão aumentava.
Ao chegar ao estádio Otavio Mangabeira (Fonte Nova), subíamos por rampas até o ponto de concentração dos amigos. Na “Antiga Fonte” a setorização era mínima. O povo circulava livre por grande parte do estádio, exceto nos clássicos. Os bares vendiam cervejas em garrafas e os copos na maioria das vezes preenchidos pelo próprio torcedor. Cada ataque nosso, esses mesmos copos eram arremessados para cima na hora do gol ou no campo se a jogada fosse muito absurda. Subir e descer as escadas para novas fichas e copos era o crossfit da época.
Foram anos vivendo essa paixão e entendendo o quanto nosso “Bahêa” é importante para a vida do torcedor. Nos últimos dias, algumas notícias positivas sobre o controle da pandemia e declarações dos nossos governantes, fizeram com que a nação tricolor começasse a se planejar para esta volta ao nosso estádio. A Arena atual, reconstruída após uma catástrofe, e nos últimos meses servindo como hospital COVID, em breve receberá os apaixonados torcedores. Protocolos serão informados, a segurança precisa existir, mas não tenho dúvida que após tanto tempo e distância, o amor do torcedor pelo Clube tenha aumentado. Muitos estão descontentes com tantos resultados negativos e decepções, com razão, e não há lugar melhor para se manifestar: o estádio.
Finalizo esta primeira coluna expressando minha solidariedade às milhares de famílias que perderam algum ente querido para esta terrível pandemia. Meu fraterno abraço.
Lúcio Flávio Rios
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