O atleta contou ainda sobre o dia que voltou para casa e esteve com a esposa e seus dois filhos
Foto: Alfredo Noronha / InfoBaheâ
Goleiro do Bahia, Danilo Fernandes lembrou do atentado a bomba que os atletas sofreram no início do ano de 2022. Ele foi um dos principais atingidos e quase ficou cego. Em entrevista ao Info Bahêa, no Pod Info Bahêa de número 18, o arqueiro falou sobre a sensação de impunidade que ainda ronda o caso.
“A impunidade machuca muito. Eu fui intimado para ir à delegacia duas vezes. Os caras não vão e eu tenho que ir. Esse é o problema. Até minha esposa fala para eu perdoar, livrar, mas eu não sei. Não sei se tenho rancor. Eu passei por isso, é complicado. O mais difícil foi saber que eu estou jogando e o cara está ali na torcida. Até hoje não aconteceu nada. O cara jogou a bomba e está ali na torcida. Eu sei que esse cara está há 15 metros de mim, no estádio. No início eu lembrava disso, mas depois fui tentando não focar nisso”, desabafou.
O atleta contou ainda sobre o dia que voltou para casa e esteve com a esposa e seus dois filhos. Segundo ele, houve um esforço para não impactar o filho, que sonha em ser goleiro. “Isso que mais doeu, meu filho é apaixonado por futebol e ele vendo que eu fui jogar e voltei daquele jeito. Eu disse a ele que uma pedra bateu em mim e tinha me machucado, mas eu não deixava ele ver meu pescoço, mas eu estava todo cheio de ponto. Eu vou falar o que pra meu filho? Que imagem ele vai ter do futebol? Ele é louco pelo futebol, quer ser goleiro. Foi complicado. Não conseguia olhar pra eles. Fiquei uns dias em casa e depois pensei que tinha que ir pro CT”, disse.
Fernandes contou, com detalhes, como foi o atentado. Ele disse que achou, no momento, que tinha ficado cego.
“Parece que eu estou esquecendo o que aconteceu. Eu não entendi nada, eu estava no último assento e a bomba entrou do lado esquerdo e me pegou do lado direito. Passou na frente do Matheus Bahia. Estourou o vidro na frente dele. Eu estava no celular, não costumo ficar no celular, mas nesse dia eu estava e do nada eu senti como se alguém tivesse caído em cima de mim. Eu pensei: 'que porra é essa?' e não via mais nada dentro do ônibus, muita fumaça. Eu só via de um lado. Aí eu levantei e vi o pessoal dizendo que tinham jogado uma bomba. E senti pingando no meu corpo e vi minha mão toda vermelha. Eu não enxergava mais de um olho, eu não conseguia abrir, tinha vidro dentro, consegui pegar um pano que fica no ônibus só para tampar o olho. Patrick me chamou pra frente, fui tropeçando, não enxergava nada, muita dor na perna por conta dos ferimentos, tive cortes profundos na perna. Eu estava com dor na perna, no rosto, não conseguia andar e ali eu comecei a entrar em desespero. O pessoal mandava tirar o pano e eu não queria, queria só tentar enxergar com os dois olhos. Eu tentava abrir o olho, sentia arranhando, eu sabia que era vidro. Eu não queria mais mexer. Eu falava pro Patrick que tinha ficado cego do olho esquerdo. Ele dizia que não, que era pra tirar o pano”, afirmou.
“Logo chegou no estádio, mas foram minutos de terror total. Eu não gosto de lembrar daquilo. Eu desci logo do ônibus, sentei na porta do vestiário, queira vomitar, bebia muita água, estava nervoso. Eu não queria tirar o pano do rosto, meu medo era o olho. Depois o médico me disse que meu olho foi o que menos sofreu, mas que o problema foi o pescoço, que tinha um pedaço de vidro grande. O médico disse que eu dei sorte pelo pescoço”, completou.
Em junho desse ano quatro envolvidos no ataque ao ônibus do Bahia foram indiciados pela Polícia Civil (PC). De acordo com nota emitida pela PC, o inquérito foi concluído pela 6ª Delegacia Territorial de Brotas no início deste mês. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados. Eles seguem em liberdade.
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